quarta-feira, 28 de abril de 2010

Comunidade Quilombola: uma luta pela conservação da identidade


A representante da Comunidade Quilombola do Grilo, Leonilda Coelho Tenório dos Santos, conhecida como Paquinha cedeu entrevista exclusiva para os alunos do 8º e 9º ano da Escola Municipal Deolinda Maria do Amaral, com supervisão da professora Amanda (História). Ela falou sobre a origem do nome da comunidade, a perda da identidade, preconceito, entre outros assuntos.

Jornal Nosso Saber – Quanto tempo você mora no Quilombo?

Paquinha – Desde que nasci. Há 48 anos.

JNS – O que é viver em uma comunidade quilombola?

Paquinha – Para mim é motivo de orgulho, principalmente hoje que conheço meus direitos, onde aprendi participando de eventos para o reconhecimento do meu lugar.

JNS – Porque o quilombo recebeu esse nome?

Paquinha – Bem, havia um poço aqui na comunidade que nunca secava e vinha gente de toda a região em busca de água. Ao redor do poço ficava muita gente que parecia uma invasão de grilo.

JNS – Você já foi vítima de preconceito?

Paquinha – Sim, alguma vezes. Mas, a que mais me deixou triste aconteceu há alguns anos atrás, quando recebi um convite para ser candidata a vereadora. A idéia não foi aceita por todos. Fui vítima de preconceito racial. Voltei para casa arrasada e chorei muito. Isto não me acontece mais, pois hoje eu sei dos meus direitos.

JNS – Esse quilombo é reconhecido pelo Ministério da Cultura?

Paquinha – Já é reconhecido, mas a papelada está em andamento. É preciso a contribuição de todos da comunidade.

JNS – Como é realizado o trabalho aqui na comunidade? Vocês trabalham em prol do quilombo?

Paquinha – Sim. Já fizemos estradas aqui no Grilo, antes não entrava carro nem moto. Hoje tudo é mais fácil. A gente estourava as pedras com lenha e, com as pedras, fazíamos as estradas. Além disso, participamos das construções de cisternas e ajudamos erguer casas dos moradores da comunidade.

JNS – Existe alguma manifestação da religião afro aqui no quilombo?

Paquinha – Praticamente não. Aqui as duas religiões são católica e evangélica.

JNS – Que grau de parentesco você tem com algum ex-escravo?

Paquinha – Ter eu sei que tenho, mas não sei como.

JNS – Já ouviu histórias de ex-escravos aqui no quilombo?

Paquinha – Sim. Já ouvi histórias contadas pela minha mãe e pelo meu pai sobre ex-escravos que viveram por aqui ou nos quilombos mais próximos.

JNS – O que ainda resta de tradições afro-brasileira aqui na Comunidade Quilombola do Grilo?

Paquinha – São poucas tradições. O artesanato, estamos na tentativa de resgatar assim como a ciranda e a capoeira. Mas, o interessante é que vez por outra é que percebo um costume novo, como no modo de falar que é herança dos cativos de antigamente. Nossa fala é enrolada e rápida.

JNS – Como você se sente diante dessa perca de identidade em sua comunidade?

Paquinha – Me sinto triste, pois não quero ver nossa cultura acabar. Poucos se interessam em preservar. Acho que no fundo ela não morre dentro da gente.

JNS – Que benefícios a comunidade passa a desfrutar com a vinda da associação?

Paquinha – Melhorou bastante, mas ainda é pouco. Merecemos mais. Cada família da comunidade recebe uma cesta básica por mês, assistência com remédios, vez por outra é oferecido cursos aqui na associação. Hoje faço cisternas, aprendi aqui na comunidade que tenho tanto orgulho em representá-la.

JNS – Existem rezadeiras de raminho aqui no Grilo?

Paquinha – Existe. A minha mãe era uma e minha irmã teve o mesmo dom. Além das rezas, elas fazem remédios caseiros aprovados por muita gente. Antes de morrer, minha mãe ficou de me ensinar e, infelizmente, não deu tempo, mas como sou curiosa, aprendi uma das suas rezas. Temos muita fé nas rezas. Muitos problemas de saúde curamos aqui mesmo com as rezas e remédios caseiros.

JNS – Todos os membros da comunidade sabem de sua verdadeira identidade enquanto quilombo?

Paquinha – Não. Aos poucos tenho conseguido passar algumas informações em nossos encontros. É necessário que todos tenham participação, pois só assim teremos mais melhorias.

Um comentário:

  1. Parabéne Paquinha pelos ensinamentos que sempre passa aos pesquisadores e assim contribui para a perpetuação da história desse comunidade.

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